quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Metalinguagem da alma

algumas palavras sob(re) as palavras

"Les mots prennent toujours la couler des actions ou des sacrifices qu'ils suscitent" / as palavras ganham a cor das ações ou sacrifícios que elas carregam. (CAMUS, Albert. Lettres à un ami allemand)

E no princípio era o Verbo...


(Kim Krizan, roteirista)

"Creation seems to come out of imperfection. It seems to come out of a striving and a frustration. And this is where I think language came from. I mean, it came from our desire to transcend our isolation and have some sort of connection with one another. And it had to be easy when it was just simple survival. Like, you know, "water." We came up with a sound for that. Or "Saber-toothed tiger right behind you." We came up with a sound for that. But when it gets really interesting, I think, is when we use that same system of symbols to communicate all the abstract and intangible things that we’re experiencing. What is, like, frustration? Or what is anger or love? When I say "love," the sound comes out of my mouth and it hits the other person’s ear, travels through this Byzantine conduit in their brain, you know, through their memories of love or lack of love, and they register what I’m saying and they say yes, they understand. But how do I know they understand? Because words are inert. They’re just symbols. They’re dead, you know? And so much of our experience is intangible. So much of what we perceive cannot be expressed. It’s unspeakable. And yet, you know, when we communicate with one another, and we feel that we’ve connected, and we think that we’re understood, I think we have a feeling of almost spiritual communion. And that feeling might be transient, but I think it’s what we live for."

Tradução:

A criação parece vir da imperfeição. Parece ter vindo de um anseio e de uma frustração. É daí, eu acho, que veio a linguagem. Quero dizer, veio do nosso desejo de transcender nosso isolamento e ter algum tipo de ligação com os outros. Devia ser fácil quando era só uma questão de mera sobrevivência. "Água". Criamos um som para isso. "Tigre atrás de você!" Criamos um som para isso. Mas fica realmente interessante, eu acho, quando usamos esse mesmo sistema de símbolos para comunicar tudo de abstrato e intangível que vivenciamos. O que é "frustração"? Ou o que é "raiva" ou "amor"? Quando eu digo "amor", o som sai da minha boca e atinge o ouvido de outra pessoa, viaja através de um canal labiríntico em seu cérebro através das memórias de amor ou de falta de amor. O outro diz que compreende, mas como sei disso? As palavras são inertes, são apenas símbolos. Estão mortas, sabe? E tanto da nossa experiência é intangível. Tanto do que percebemos é inexprimível. É indizível. E, ainda assim, quando nos comunicamos uns com os outros, e sentimos ter feito uma ligação, e pensamos ter sido entendidos, eu acho que temos uma sensação de quase comunhão espiritual. Essa sensação pode ser transitória, mas eu acho que é para isso que vivemos.

Love is a word / O amor é uma palavra



Sati: Are you from the Matrix?
Neo: Yes. No. I mean, I was.
Sati: Why did you leave?
Neo: I had to.
Sati: I had to leave my home too.
Rama-Kandra: Sati! Come here, darling. Leave the poor man in peace.
Sati: Yes, papa.

Rama-Kandra: I'm sorry, she is still very curious.
Neo: I know you.
Rama-Kandra: Yes, in the restaurant at the Frenchman's. I am Rama-Kandra. This is my wife Kamala, my daughter Sati. We are most honoured to meet you.
Neo: You're programs.
Rama-Kandra: Oh, yes. I'm the power plant systems manager for recycling operations. My wife is an interactive software programmer, she is highly creative.
Kamala: What are you doing here? You do not belong here.
Rama-Kandra: Kamala! Goodness, I apologize. My wife can be very direct.
Neo: It's okay. I don't have an answer. I don't even know where 'here' is.
Rama-Kandra: This place is nowhere. It is between your world and our world.
Neo: Who's the Trainman?
Rama-Kandra: He works for the Frenchman.
Neo: Why'd I know you were going to say that?
Rama-Kandra: The Frenchman does not forget and he does not forgive.
Neo: You know him?
Rama-Kandra: I know only what I need to know. I know that if you want to take something from our world into your world that does not belong there, you must go to the Frenchman.
Neo: Is that what you're doing here?
Kamala: Rama, please!
Rama-Kandra: I do not want to be cruel, Kamala. He may never see another face for the rest of his life.
Neo: I'm sorry. You don't have to answer that question.
Rama-Kandra: No. I don't mind. The answer is simple. I love my daughter very much. I find her to be the most beautiful thing I've ever seen. But where we are from, that is not enough. Every program that is created must have a purpose; if it does not, it is deleted. I went to the Frenchman to save my daughter. You do not understand.
Neo: I just have never...
Rama-Kandra: ...heard a program speak of love?
Neo: It's a... human emotion.
Rama-Kandra: No, it is a word. What matters is the connection the word implies. I see that you are in love. Can you tell me what you would give to hold on to that connection?
Neo: Anything.
Rama-Kandra: Then perhaps the reason you're here is not so different from the reason I'm here.


Tradução:

Sati: Você é da Matrix?
Neo: Sim. Não. Quer dizer, eu era.
Sati: Por que você saiu?
Neo: Eu precisei.
Sati: Eu também tive que abandonar meu lar.
Rama-Kandra: Sati! Venha cá, querida. Deixe o pobre homem em paz.
Sati: Sim, papai.

Rama-Kandra: Desculpe-me, ela é ainda muito curiosa.
Neo: Eu lhe conheço.
Rama-Kandra: Sim, do restaurante do Francês. Eu sou Rama-Kandra. Esta é minha esposa Kamala, minha filha Sati. Estamos muito honrados em conhecê-lo.
Neo: Vocês são programas.
Rama-Kandra: Oh, sim. Sim. Sou o gerenciador de operações de reciclagem do sistema de energia. Minha esposa é programadora de software interativo, ela é muito criativa.
Kamala: O que faz aqui? Não pertence a este lugar.
Rama-Kandra: Kamala! Peço desculpas. Minha esposa pode ser muito direta.
Neo: Tudo bem. Não tenho resposta. Eu nem mesmo sei onde é "aqui".
Rama-Kandra: Isto não é lugar nenhum. Fica entre o seu mundo e o nosso.
Neo: Quem é o Homem do Trem?
Rama-Kandra: Ele trabalha para o francês.
Neo: Por que eu já sabia que você ia dizer isso?
Rama-Kandra: O francês não esquece e ele não perdoa.
Neo: Você o conhece?
Rama-Kandra: Só sei o que preciso saber. Eu sei que se você quiser levar algo do nosso mundo para o seu que não é de lá, você precisa ir ao francês.
Neo: É isso que estão fazendo aqui?
Kamala: Rama, por favor!
Rama-Kandra: Não quero ser cruel, Kamala. Talvez ele nunca mais veja
um rosto pelo resto da vida.
Neo: Sinto muito. Não precisa responder.
Rama-Kandra: Não, eu não me importo. A resposta é simples. Eu amo muito a minha filha. Eu a acho a coisa mais linda que já vi. Mas, no nosso mundo, isso não basta. Todo programa criado deve ter uma função. Se não tiver, é deletado. Procurei o francês para salvar minha filha. Você não entende.
Neo: É que eu nunca...
Rama-Kandra: ...ouviu um programa falar de amor?
Neo: É uma emoção humana.
Rama-Kandra: Não, é uma palavra. O que importa é a conexão que a palavra carrega.
Vejo que você está amando. Pode me dizer o que daria para manter essa conexão?
Neo: Qualquer coisa.
Rama-Kandra: Então talvez a razão pela qual está aqui não seja tão diferente da minha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário.