Les Cahiers antispécistes
n°1 (outubro 1991)
LAIR publications
Editors Norma Benney, Gisèle Mauras
Traduzido em francês pelo "Collectif Parisien Anti-Vivisection"
Tradução: Anna Cristina Reis; revisão: Gabriela Chamoulaud
Esse texto foi publicado há muitos anos atrás na revista Le pigeon voyageur, sob a assinatura acima. O grupo LAIR, que parece não existir mais, se definia, até onde sabemos, como «gays e feministas interessados pelos direitos dos animais». Infelizmente não sabemos quem era o «Collectif Parisien Anti-Vivisection» que declara, ao lado deste artigo: «Queremos falar pelos que não são representados, pelos supliciados. O maior denominador comum para todos é a expressão de uma ética que englobe os mais fracos. A questão não interessa ninguém pois trata-se de um não-poder, de uma não-palavra...»
Estou cansada de escutar as pessoas dizerem – assim que ficam sabendo que sou vegana e anti-vivisseccionista – «Oh! É óbvio que você é amiga dos animais». Se eu protestasse pelos paquistaneses que são martirizados pelo partido de direita, não imagino que estas mesmas pessoas diriam com a mesma complacência: «Oh! É óbvio que você sempre gostou dos paquistaneses».
Opor-se à exploração dos animais e à opressão dos «não humanos» nada tem a ver com o fato de ser «amigo dos animais». Há centenas e milhares de amigos de animais por aí. Os restaurantes com rodízios de carne estão cheios deles. As lojas que vendem artigos de pele, também. Os domadores dos circos fazem poses afetuosas com os animais que domam com descargas de eletricidade e bastões de ferro.
O chofer de caminhão que transporta os animais para os abatedouros de um outro país e os deixa três dias sem água e sem comida, até que os animais se comam mutuamente, volta correndo para casa, para sua mulher e seu gatinho. O vivisseccionista, cansado após uma tarde de experiências feitas em um animal não anestesiado, volta para casa e acaricia seu cão...
Não, eu não amo particularmente os animais!
E nem sei se ter um em casa seja uma boa idéia. Pois a sociedade protetora dos animais «Battersea Dogs Home» sacrifica cem cães por semana, cães que foram encontrados abandonados nas ruas – abandonados, sem dúvida, pelos amigos dos animais. As pessoas que se declaram amigas dos animais são, habitualmente, pessoas muito sensíveis. Quando você quer lhes mostrar fotos de vivissecção, elas replicam invariavelmente: «Oh, não! Eu não posso nem ver isso. Isso acabaria comigo». Essas pessoas preferem não saber. Escutamos vagamente falar de um cara que conheceu uma outra pessoa que foi visitar um abatedouro uma vez e que não pôde dormir durante uma semana ou que não pôde mais comer carne durante quinze dias. Mas «é uma experiência terrível, e eu preferiria nem tomar conhecimento». É possível visitar um abatedouro. Mas não existe a mesma oportunidade de visitar um laboratório de vivissecção. Os vivisseccionistas tomam suas precauções quanto a isso. Nos laboratórios onde as experiências são feitas nos animais, as portas estão fechadas para a polícia, para os deputados nos quais você vota, para os representantes das entidades de proteção animal, para o público, para os amigos dos animais, para todo mundo. Assim, os animais podem ser envenenados, seus olhos arrancados, tornarem-se loucos, serem cortados em pedaços (ainda vivos e conscientes), trepanados, batidos, comprimidos para a satisfação e a curiosidade dos vivisseccionistas. O público não está lá para ver.
Para mim, «amigos dos animais» é um termo pejorativo, degradante, ao qual a gente se refere como quando se refere aos militantes feministas. Isso subentende uma predisposição por um mundo de peles confortáveis e voluptuosas. Um termo que nos faz pensar em uma menininha de um livro de contos infantis que joga migalhas de pão na neve para alimentar os pássaros no inverno.
A liberação do animal ainda deve nascer e esse movimento não tem nada a ver com os «amigos dos animais». As pessoas interessadas pelo movimento de liberação animal não possuem obrigatoriamente animais. Nós não conversamos com os animais através das grades de gaiolas. Não compramos fotos de gatinhos com a cabecinha para fora de uma bota. E nunca proclamamos sorrindo que somos amigos dos animais, nos desculpando assim, de toda ação para combater o chauvinismo humano que é universal, infinito e pouco detectado por estar tão presente em nossa vida cotidiana.
Os animais são
A última das minorias,
Judeus perpétuos
Em um Estado perpetuamente nazista;
Negros perpétuos
Em uma perpétua África do Sul;
Mulheres perpétuas
Em uma perpétua Arábia poligâmica.
Fonte: Les Cahiers antispécistes
Retribuo os votos de feliz 2009.
ResponderExcluirAbraço!