quarta-feira, 10 de junho de 2009

A inverdade dos rótulos

Tom Regan, Jaulas Vazias.
capítulo 1, página 12.

Tom Regan, Professor Emérito de Filosofia da Universidade da Carolina do Norte, é reconhecido mundialmente como um dos maiores nomes da Bioética. Publicou, entre outros, The Case for Animals Rights e Animal Rights and Human Obligations. Jaulas Vazias é seu primeiro livro publicado no Brasil.

Os opositores acham que direitos animais é uma idéia radical ou extrema, e não raramente rotulam os defensores dos direitos animais de "extremistas". É importante entender de que forma esse rótulo é usado como instrumento retórico para evitar a discussão informada e justa; do contrário, aumentam as chances de não termos uma discussão com esses atributos.

"Extremistas" e "extremismo" são palavras ambíguas. Em um sentido, extremistas são pessoas que fazem qualquer coisa para atingir seus objetivos. Os terroristas que destruíram as torres gêmeas do World Trade Center eram extremistas nesse sentido; estavam determinados a fazer de tudo para conquistarem seus fins, mesmo que isso significasse matar milhares de seres humanos inocentes.

Os defensores dos direitos animais (DDAs) não são extremistas nesse sentido. Vou repetir: os DDAs não são extremistas nesse sentido. Mesmo os mais combativos defensores dos direitos animais (os membros da Frente pela Libertação Animal, digamos) acreditam que haja limites morais absolutos para o que pode ser feito em nome da libertação animal: certos atos nunca devem ser cometidos, de tão ruins que são. Por exemplo, a Frente se opõe a ferir ou matar seres humanos.

Em outro sentido, a palavra extremista se refere à natureza incondicional daquilo em que as pessoas acreditam. Neste sentido, os defensores dos direitos animais são extremistas. De novo, deixe-me repetir: os DDAs realmente são extremistas, neste sentido. Eles realmente acreditam que é errado treinar animais selvagens a representar atos para o entretenimento humano, por exemplo. Mas, neste sentido, todo mundo é extremista. Por quê? Porque há algumas coisas às quais todos nós (espero) nos opomos sem restrições.

Por exemplo, todos que estão lendo estas palavras são extremistas, quando se trata de estupro; somos contra o estupro o tempo todo. Cada um de nós é um extremista quando se trata de abuso infantil; somos contra o abuso infantil o tempo todo. De fato, todos nós somos extremistas quando se trata de crueldade com os animais; nunca somos a favor disso.

A verdade pura e simples é que pontos de vista extremos são, às vezes, pontos de vista corretos. Assim, o fato de nós sermos extremistas, no sentido de termos crenças incondicionais a respeito do que seja certo ou errado, não oferece, por si só, razão para se pensar que estejamos errados. Então a questão a ser examinada não é: "Os DDAs são extremistas?" A questão é: "Eles estão certos?" Como veremos, esta pergunta quase nunca é feita, e, menos ainda, respondida adequadamente. Uma conspiração entre a mídia e alguns fortes interesses se encarrega disso.

A mídia

Uma barreira contra a discussão justa sobre os direitos animais é a mídia. Como ocorre com a tanta freqüência, hoje em dia, nossa percepção do "mundo real" é baseada no que vemos na televisão ou lemos nos jornais. Isso já deveria acionar um alarme logo de cara. Talvez Paul Watson exagere ao afirmar que " a mídia só se preocupa com quatro elementos: sexo, escândalo,violência e celebridade, e se você não tiver um desses elementos em sua matéria, então não tem uma matéria". Mesmo assim, há muita verdade no que Watson diz. Aterrissagens perfeitas? Difícil conseguir uma cobertura disso. A mídia adora um desastre de avião. Adicione um pouco de sexo, escândalo e duas ou três celebridades, misture tudo e pronto, você já é candidato à primeira página. Se duvidar do que digo, assista às notícias de hoje ou leia os jornais de amanhã.

Como a mídia procura o que é sensacional, pode-se contar com ela para cobrir direitos animais quando alguma coisa bizarra ou fora-da-lei acontece. Membros da Frente de Libertação Animal (ALF, na sigla em inglês) explodem uma bomba num laboratório. Um ativista contra o uso de peles atira uma torta na cara de Calvin Klein. Este é o tipo de matéria que a gente constuma ver ou ler. E quanto ao protesto pacífico de ontem, do lado de fora de uma loja de peles, ou à palestra sobre direitos animais na faculdade de Direito na noite passada? Isso raramente é noticiado. Notícias sobre direitos animais que não sejam sensacionalistas não "sangram" sufucientemente para o gosto da mídia. Não admira que o público em geral veja os defensores dos direitos animais como um mero bando de palhaços e de desajustados sociais. Quase sempre, essa é a única mensagem que passa pelos filtros da mídia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário.