"Ninguém tem paciência comigo."
do site Wikipedia (adaptado)
Diógenes de Sínope (em grego antigo: Διογένης ὁ Σινωπεύς; Sínope, 404 ou 412 a.C. – Corinto, c. 323 a.C.), também conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo da Grécia Antiga. Os detalhes de sua vida são conhecidos através de anedotas (chreia), especialmente as reunidas por Diógenes Laércio em sua obra Vidas e Opiniões de Filósofos Eminentes. Diógenes de Sínope foi exilado de sua cidade natal e se mudou para Atenas, onde teria se tornado um discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates. Tornou-se um mendigo que habitava as ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude; diz-se que teria vivido num grande barril, no lugar de uma casa, e perambulava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto.
Eventualmente estabeleceu-se em Corinto, onde continuou a buscar o ideal cínico da auto-suficiência: uma vida que fosse natural e não dependesse das luxúrias da civilização. Por acreditar que a Virtude era melhor revelada na ação e não na teoria, sua vida consistiu duma campanha incansável para desbancar as instituições e valores sociais do que ele via como uma sociedade corrupta.
Segundo Diógenes Laércio, a morte de Diógenes ocorreu no mesmo dia em que Alexandre, o Grande, morreu na Babilônia. Outra lenda conta que Sócrates morreu no dia em que Diógenes nasceu. Segundo a tradição, Diógenes vivia a perambular pelas ruas na mais completa miséria, até que um dia foi aprisionado por piratas para, posteriormente, ser vendido como escravo. Um homem com boa educação chamado Xeníades o comprou, e logo pôde constatar a inteligência de seu novo escravo, confiando-lhe, assim, tanto a gerência de seus bens quanto a educação de seus filhos.
Diógenes levou ao extremo os preceitos cínicos de seu mestre Antístenes. Foi o exemplo vivo que perpetuou a indiferença cínica perante o mundo. Desprezava a opinião pública e parece ter vivido em uma pipa ou barril. Seus únicos bens eram um alforje, um bastão e uma tigela (que simbolizavam o desapego e auto-suficiência perante o mundo), sendo ele conhecido como o filósofo que vivia como um cão.
A felicidade - entendida como autodomínio e liberdade - era a verdadeira realização de uma vida. Sua filosofia combatia o prazer, o desejo e a luxúria pois isto impedia a auto-suficiência. A virtude - como em Aristóteles - deveria ser praticada e isto era mais importante que teorias sobre a virtude.
Diógenes é tido como um dos primeiros homens (antecedido por Sócrates com a sua célebre frase "Não sou nem ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo.") a afirmar, "Sou uma criatura do mundo (cosmos), e não de um estado ou uma cidade (polis) particular", manifestando assim um cosmopolitismo relativamente raro em seu tempo. Diógenes parece ter escrito tragédias ilustrativas da condição humana e também uma República que teria influenciado Zenão de Cítio, fundador do estoicismo. De fato, a influência cínica sobre o estoicismo é bastante saliente.
Provavelmente, Diógenes foi o mais folclórico dos filósofos. São inúmeras as histórias que se contavam sobre ele já na Antigüidade. É famosa, por exemplo, a história de que ele saía em plena luz do dia com uma lanterna acesa procurando por homens verdadeiros (ou seja, homens auto-suficientes e virtuosos). Igualmente famosa é sua história com Alexandre, o Grande, que, ao encontrá-lo, ter-lhe-ia perguntado o que poderia fazer por ele. Acontece que devido à posição em que se encontrava, Alexandre fazia-lhe sombra. Diógenes, então, olhando para o Sol, disse: "Não me tires o que não me podes dar!" (variante: "deixe-me ao meu sol"). Essa resposta impressionou vivamente Alexandre, que, na volta, ouvindo seus oficiais zombarem de Diógenes, disse: "Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes." Outra história famosa é a de que, tendo sido repreendido por estar se masturbando em público, simplesmente exclamou: "Oh! Mas que pena que não se possa viver apenas esfregando a barriga!"
Outra história, ainda, é a de que um dia Diógenes foi visto pedindo esmola a uma estátua. Quando lhe perguntaram o motivo de tal conduta ele respondeu "por dois motivos: primeiro é que ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de alguém e nem depender de alguém."
A temática do cão
Muitas anedotas sobre Diógenes referem-se a seu comportamento semelhante ao de um cachorro, além de seu elogio às virtudes dos cachorros. Não é sabido se Diógenes considerava-se insultado pelo epiteto "canino" e fez dele uma virtude, ou se ele assumiu sozinho a temática do cão para si. Os termos modernos cínico e cinismo derivam da palavra grega kynikos, a forma adjetiva de kynon, que significa cachorro. Diógenes acreditava que os humanos viviam artificialmente e de maneira hipócrita, e poderiam fazer bem ao estudar o cão. Afinal, o cão é capaz de realizar suas funções corporais naturais em público sem constrangimento, um cachorro comerá "qualquer" coisa, e não fará estardalhaço sobre que lugar dormir. Cachorros vivem o presente sem ansiedade, e não possuem as pretensões da filosofia abstrata. Somando-se ainda a estas virtudes, cachorros aprendem instintivamente quem é amigo e quem é inimigo. Diferente dos humanos, que enganam e são enganados uns pelos outros, cães reagem com honestidade frente à verdade. [carece de fontes, rs]
Como colocado anteriormente, a associação de Diógenes com cachorros foi rememorada pelos Coríntios, que erigiram em sua memória um pilar sobre o qual descansa um cão entalhado em mármore de Paros.
Sua Obra
É em parte por causa de seu comportamento escandaloso que os escritos de Diógenes caíram no quase total esquecimento. Com efeito, a politeia (a República), escrita por Diógenes, ataca diversos valores do mundo grego, preconizando, entre outros, a antropofagia, a liberdade sexual total, a indiferença à sepultura, a igualdade entre homens e mulheres, a negação do sagrado, a supressão das armas e da moeda e o repúdio à arrecadação em prol da cidade e de suas leis. Por outro lado, Diógenes considerava o apego como sendo absurdo: não se deve apegar-se a outra pessoa, por exemplo. Por muitas destas razões, Diógenes de Sínope é considerado um precursor do Anarquismo no período clássico. Certos estóicos, portanto próximos da corrente cínica de Diógenes, parecem ter preferido dissimular e esquecer essa herança julgada "embaraçosa".
Precedente do anarquismo
Diógenes de Sinope, por seus escritos sobre a igualdade de gênero, pelas críticas que tecia aos "homens de bem", governantes das pólis de seu tempo e a sociedade segmentada entre ricos e despossuídos, por seu repúdio à religião, é considerado por muitos libertários como um importante predecessor da filosofia anarquista na antiguidade.
Nas reflexões desenvolvidas pelo filósofos cínicos, pode-se reconhecer importantes princípios do anarquismo ainda na Grécia Antiga. Segundo o historiador inglês Donald R. Dudley, em particular no pensamento de Diógenes podem ser identificados muitos elementos presentes no movimento anarquista da contemporaneidade. Em seu artigo "Aristóteles e o Anarquismo" (Aristotle and Anarchism) o filósofo estadunidense David Keyt afirma que as sementes do anarquismo filosófico podem ser mais facilmente encontradas nas idéias de Diógenes de Sínope do que nas de Sócrates. Este mesmo autor confere também a Diógenes a defesa do gérmen do proto-internacionalismo na Antiguidade, uma vez que o próprio Diógenes, refutando todas as identidades vinculadas as cidades estados e povos antigos, e negando assim a imprescindibilidade da pólis (apolis), se definia como cidadão do cosmos (kosmopolitê). O peso do pensamento ácrata de Diógenes na filosofia da Antiguidade faz com que este autor considere a hipótese de Aristóteles estar em parte reagindo e se contrapondo às idéias de Diógenes quando faz sua defesa das pólis.
Em relação a temática do casamento, Diógenes refuta o modelo familiar grego afirmando que as esposas deveriam ser mantidas em comum, não reconhecendo nenhuma legitimidade em qualquer união baseada na coerção, mas somente nas relações que se baseiem na persuasão entre pares.
Keyt apresenta ainda a perspectiva de Diógenes em relação à escravidão. Sua crítica à escravidão estaria focada no caráter de voluntarismo da parte dominada em relação à dominante: escravos sentem necessidade de mestres. Em relação a este tema, a posição de Diógenes se aproxima das reflexões apresentadas por Étienne de La Boétie sobre a servidão voluntária. Além de ser outro importante precedente do anarquismo no final do medievo, La Boétie fora a seu tempo tradutor de diversos escritos relacionados aos cínicos, adotando também a metodologia cínica baseada na inventividade, no uso da ironia, em jogos de palavras e paradoxos.
"Na casa de um rico não há lugar para se cuspir, a não ser em sua cara."
— Diógenes de Sínope
Da perspectiva apresentada por Roca e Álvarez, Diógenes de Sínope pode ser considerado também um predecessor dos happenings como ferramenta de contestação política. Ainda na ótica destes autores, através de suas ações provocativas individuais com as quais contestava toda forma de autoridade (Diógenes adorava ridicularizar Platão enquanto autoridade filosófica) e de sacralidade, Diógenes pode ser considerado um importante precedente da vertente libertária conhecida como anarcoindividualismo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Diógenes_de_Sínope
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