quinta-feira, 29 de julho de 2010

Google inside

O Google é meu pastor e nada me faltará, diz o ditado moderno. A empresa Google já conseguiu criar um invisível e poderoso império dentro de um pequeno e relativo período da história humana. Eu, particularmente, acho interessante a possibilidade de anexar, ajuntar e aglutinar informações em um canal só - ter na palma da mão o planeta inteiro ou o que, pelo menos, achamos sê-lo - porém, o que acontece quando todos esses dados ficam em um só lugar? O detentor dessas informações vira "Deus". O Pastor que cuida das ovelhas, dá-lhes comida, pasto e proteção agora é onipotente e onipresente, sabe o que cada uma pensa e desvenda seus segredos mais íntimos, entregues religiosamente na (santa) barra do confessionário.

Se conhecimento é poder, como diz o jargão, quem tem mais conhecimento tem mais domínio. Voltaire disse uma vez que se o Criador não existisse teríamos de inventá-lo, porém - Ele(a) existindo ou não - já inventamos um bem parecido. Se alguém está em tudo e em todo lugar, em tempo real, quem seria esse alguém na mitologia cristã? No Brasil, o gigante dos tentáculos tem mais poder que o Lula e que o polvo alemão juntos. Eu, particularmente, não gosto da idéia de ser monitorado ou de ter minhas escolhas facilmente rastreáveis, por mais "inofensivas" que sejam. É claro, eles podem querer apenas nosso bem (ofertando-nos produtos de acordo com nossas melhores preferências, inclusive), mas é possível sentir-se confortável com tantas câmeras? O show não pode parar, diz outro jargão ocidental, mas e quando não quisermos viver mais atrelados à roda?

Eu poderia discorrer sobre o Apocalipse, Calendário Maia, mas fica pro ano que vem ou o próximo... o importante é que, para tudo na vida, é preciso confiança. Como confiar em algo que não se vê? Ele te vê, você não O vê. Que espécie de jogo é esse, afinal? Não é um jogo, é assunto sério, de fato. Não que a seriedade não envolva jogo e vice-versa, mas... a sensação que me dá é que, ao mesmo tempo em que temos mais conforto e facilidade nas cidades, nossa liberdade e privacidade é restringida. Não falo apenas pelo número de pessoas que aumenta no planeta, mas pelo número de formas que se criam para identificá-las. Quem não deve não teme, diria outra máxima antiga, mas quem não teme deveria pelo menos estar aberto à dúvida, à desconfiança. Isso é o mínimo que podemos fazer enquanto seres críticos, no bom sentido da palavra. Entretanto, ter nossas conversas e dados "interceptados" online é um caminho inevitável e lógico no mundo da rede. Como estabelecer uma conexão sem um meio? Como estabelecer um meio sem uma conexão?

Em um mundo extrafísico, poderíamos igualmente ter nossas conversas telepáticas interceptadas pelos anjos da Matrix. Mas se eles são anjos, que proveito tirariam em escutar nossas conversas? Há coisas mais importantes para se preocupar, como a vida dos pássaros e das abelhas, por exemplo. No fundo, e a princípio, para se usufruir de um Estado é preciso confiar em seus governantes e em seus membros, declarados ou não. Confiar, ou não usar, eis a questão. Confiar ou não ser usado, eis outra. Eu confio, logo uso. Mas com o plugue sempre atrás da orelha.



Para ler:
Google: Os longos tentáculos da gigante de buscas

3 comentários:

  1. Jaya Guru Saint Google, Jaya Guru Bro Yahoo, Jaya Deusas Loucas de unhas grandes, cabelos esvoaçantes, línguas vibrantes. Jaya Elefantes, livres de circos, caravanas, rifles, zoos. Talvez um dia os governos tentam privatizar o google ou o google tente comprar os governos. Haverá resistência.

    Defendo cada vez mais que a gente precisa de momentos DESCONECTADOS, desbloGADOS, desgoogled, defacedbooked, no tv, no copa do mundo, no yahoo, no f1, no internet.

    momentos com o mar, com as arvores, com o ar, com as maos, terras, ervas, reservas intensas de carinho, telepatia, coraçao, respiraçao e música!

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  2. Muito legal esse artigo. Ainda hoje li a notícia abaixo:
    "Os dados pessoais de cerca de 100 milhões de usuários do site de relacionamentos pessoais Facebook foram coletados e publicados na internet por um pesquisador e consultor de segurança. (...)
    A lista se espalhou rapidamente pela internet, sendo baixada em sites de compartilharmento de arquivos. Mas em um comunicado o Facebook disse à BBC que a informação divulgada já era pública.
    (...)
    " já existem em sites como Google, Bing e outros mecanismos de busca, além do Facebook", diz o comunicado."
    http://noticias.terra.com.br/noticias/0,,OI4592016-EI188,00.html
    Abraços,

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  3. Realmente, isso é algo a se preocupar. Ainda bem que existem estudos como esse. E são cada vez mais presentes, pelo visto.

    "momentos com o mar, com as arvores, com o ar, com as maos, terras, ervas, reservas intensas de carinho, telepatia, coraçao, respiraçao e música! "

    Esse é o wifi orgânico, intenso e primordial... Reconectar é preciso, navegar não é tão preciso quanto prevíamos. Será que prevíamos? A vida digital também é orgânica, mas é legal um equilíbrio.

    Abraços e paz.

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