segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Novas portas ainda abertas para Robby Krieger

Por Terry Roland ,7 de janeiro de 2011

Tradução não-oficial: Leandro Loan

Originalmente apresentado na edição de janeiro da San Diego Troubadour

Não sou grande fã de rankings – como em quem é o melhor grupo de todos os tempos? Sabe-se que pessoas argumentam por horas, dias e até anos sobre quem vai para onde em tal lista de artistas favoritos. Mas, se eu fosse pressionado para dar minha lista de cinco bandas de rock preferidas, the Doors estariam bem perto do topo. The Doors ocupam um lugar único no mundo  do rock. Eles parecem ter existido em seu próprio universo pelos últimos 45 anos. Em uma época da história da música em que muitos grupos chegavam em Los Angeles com resultados confusos e desaparecendo rapidamente, the Doors abriram  novos panoramas musicais encontrados no jazz, blues e rock, criando assim uma nova plataforma para futuras bandas. The Doors trouxeram uma diversidade concentrada forjada pelos seus quatro membros distintamente talentosos. Eles expandiram longas e jazzísticas jams antes de qualquer um no rock ter pensado em fazê-lo. Eles desbravaram lugares tendo o rock como performance artística em seus shows, os quais eram, por diversas vezes, imprevisivelmente ásperos e espontâneos.

Com a poética e xamânica performance de Morrison; o velho órgão de igreja convertido à psicodelia de Manzarek; e a firme, consistente e hábil percussão jazzística de Densmore; Krieger trouxe uma abordagem original à guitarra e ao talento artístico, o que faz dele um contemporâneo e parceiro de outras lendas da guitarra de nossa era, como Clapton, Hendrix e Santana. »»

Esse background faz da apreciação inicial do álbum-solo de Krieger, Singularity, nomeado ao Grammy, um tipo de revelação. Enquanto os Doors estiveram mais comumente associados ao seu carismático cantor principal, o berrante e auto-destrutivo Jim Morrison, escutar a guitarra solo de Robby em seu novo álbum, preenchido de flamenco e fusion jazz, revela o quanto ele contribuiu para a experimentação e o ambiente sonoro de Doors. Com a sensibilidade erudita e a disciplina de um guitarrista de jazz clássico, a paixão de um executante de flamenco e a natureza experimental  de um músico de jazz, Robby Krieger deu aos Doors uma paisagem sonora musical sólida. Ele faz o mesmo com seu primeiro lançamento solo em dez anos. As músicas tocam como um épico periódico musical, uma meditação sobre a criatividade e a paixão que emerge do nada, da singularidade do momento da criação.

Nativo de Los Angeles, Robby estudou guitarra flamenco enquanto surfava nas ondas das praias do Sul da Califórnia. Sua família encorajou-o sua música. Comunidades litorâneas como Hermosa e Manhattan Beach não estavam distantes dos clubes de jazz e blues em uma época em que categorias musicais não eram tão importantes quanto à busca por boa música. Durante sua adolescência, Robby abraçou o clássico e o jazz assim como o blues e o rock. Foi essa base que forneceu o som que ele traria ao the Doors. Durante sua história de seis anos, ele guiou-nos por blues abruptos (“Back Door Man”), improvisações psicodélicas (“The End”), e alguns dos primeiros slides de guitarra do rock (“Moonlight Drive”). Uma grande sugestão de apreciação sobre sua influência nos Doors é o seu remix sobre a clássica “Peace Frog”, de the Doors, agora entitulada “War Toad”, de seu lançamento de 2000, Cinematix. Ele até trabalhou o flamenco na canção “Spanish Caravan”. E o flamenco foi uma influência sempre constante na maioria de seu trabalho com a banda.

Mas a guitarra diversa e intensamente  distinta e criativa não foi sua única contribuição à música de Doors. Ele também foi aquele que escreveu canções como “Light My Fire”, “Love Me Two Times”, “Love Her Madly” e “Touch Me”. Através dos anos, Robby recebeu várias honras e prêmios, incluindo um Lifetime Achievement¹ Grammy em 2007 pelos Doors. Ele produziu apenas um punhado de álbuns solo. Em 2002, juntou-se ao tecladista Ray Manzarek para formar os Doors of the 21st Century com Ian Astbury do the Cult “preenchendo” o papel de Morrison. Um sucedido período de tour permitiu-lhe trazer de volta suas clássicas peças de guitarra do Doors a um lugar vivo. Presenciei seu show de 2004 no L.A. County Fair e os resultados foram, novamente, reveladores. Depois de escutar ambos Ray e Robby por tantos anos nas gravações, testemunhá-los ressuscitando e trazendo à nova vida a música que eles haviam cultivado por tantos anos foi, em uma palavra, eletrizante.

Depois de perder uma batalha legal sobre o uso do nome da banda, Ray e Robby viajam hoje como Manzarek/Krieger. Por um período limitado Robby está viajando com os músicos de jazz e com os músicas que formalmente trabalharam com Frank Zappa (que também aparece no álbum Singularity, o qual produziu). A turnê de Ray recomeçará ano que vem na Cidade do México. Com sua nomeação para um Grammy na category do Pop Instrumental, ele é o primeiro membro solo dos Doors a ser honrado em uma categoria competitiva. Ao mesmo tempo, a banda foi nomeada para Best Extended Music Video para o documentário “When you’re Strange” [narrado por Johnny Depp]. Parece outro bom ano para os Doors e um especialmente bom para Robby que possui uma boa chance de ganhar um bem-merecido Grammy para Singularity. Na seguinte entrevista por telefone, Robby compartilha suas idéias sobre o novo álbum e a antiga banda.

Terry Roland: Esta é a sua primeira nomeação ao Grammy?

Robby Krieger: Sim. Eu tenho um Lifetime Achievement Award pelos Doors, mas esta é a primeira nomeação em uma categoria competitiva.

T.R.: O seu novo álbum, Singularity – como surgiu?

R.K.: Originalmente começou como um tributo a Miles Davis. Eu fiz junto a Arthur Barrow. Nós somos ambos grandes fãs de Miles. Estávamos tentando fazer algo como Sketches of Spain. Você sabe, eu iria fazer Miles e Arthur seria Bill Evans e fazer a produção do estúdio. Esses caras foram nossos ídolos. Começamos a anos atrás e então nós dois perdemos interesse no projeto. Tivemos bastante faixas. Finalmente, em torno de há um ano e meio, nos reunimos e decidimos que tínhamos que terminar isso.

T.R.: Então você tinha as gravações demo para construir em cima?

R.K.: Sim, um tipo de rascunho grosso. A maior parte, o impulso inicial, é a peça “Russian Caravan”. Começou com um Flamenco acústico e depois foi para a versão orquestral arranjada por Arthur a partir do flamenco. Pela época que terminamos, continha quase 15 minutos. Depois de terminada a faixa, decidimos fazer um álbum inteiro. Transformou-se em um tipo de Jazz Latino e Espanhol.

T.R.: Você sempre trouxe uma mentalidade jazz à sua música. Lembro, com os Doors, “Light My Fire” foi um tipo de jazz a la Miles/Coltrane. Foi a primeira vez que qualquer um no rock fez algo parecido?

R.K.: Sim. Eu acho que a única coisa que chegou perto foi Paul Butterfield em East-West.

T.R.: Notei que sua nomeação não veio sobre o jazz ou rock mas sobre a categoria de Pop instrumental.

R.K.: Sim, as categorias dos Grammys são meio estranhas. Vi que o álbum está nomeado junto a outros artistas de jazz... Você sabe, Kenny G, ele é jazz. E Larry Carlton, ele é jazz. Eu acho que simplesmente há muitas categorias.

T.R.: Você vai estar tocando por L.A. durante o Grammy?

R.K.: Sim, haverá um show no museu do Grammy para os nomeados na categoria.

T.R.: Fale-me sobre o título e como isso se relaciona ao álbum. Parece um tanto quanto conceitual.

R.K.: Bem, Singularity foi como um acaso². Nós acabamos usando uma de minhas pinturas entitulada “Singularity”. Para mim, o termo é como a Teoria do Big Bang. Você sabe, alguma coisa vem de alguma coisa. É como primeiro havia nada e então de repente tudo surge desde único ponto do espaço. Foi como se Deus dizesse que estava entediado e então decidiu fazer algo acontecer. Você sabe, como a música “Event Horizon”, que é parte de um buraco negro. Tem tanta gravidade que tudo é puxado. Event Horizon é aquela área ao redor do buraco negro. Outras peças têm temas similares, como “Southern Cross” e “Solar Wind”. É sobre criatividade, sobre como isso acontece no momento.

T.R.: Sim, eu sei o que o escritor Larry McMurtry disse sobre escritores de ficção, “Ele escreve a partir do silêncio”. Meio que é o mesmo conceito?

R.K.: Sim.

T.R.: Então você está em turnê agora?

R.K.: Sim, acabamos de voltar de Nova York.

T.R.: Você está sendo chamado de Robby Krieger Jazz Trio.

R.K.: Eu não sei de onde isso surgiu. Não somos um trio, há atualmente cinco de nós e talvez seis.

T.R.: Quem está no grupo?

R.K.: Arthur Barrow, produtor do novo álbum; costumava estar com Frank Zappa. Tommy Mars no órgão; também costumava estar com Zappa. Há Chuck Manning no Sax e Tom Brechline na bateria, que costumava tocar com Chic Corea.

T.R.: Vamos falar sobre os Doors.

R.K.: Okay.

T.R.: Notei algum balanço na visão sobre a banda recentemente no filme When You’re Strange e no site do the Doors. É um lembrete de que uma banda não é realmente apenas uma só pessoa, mas quatro membros os quais cada um trouxe contribuições importante para o todo.

R.K.: Sim, somos uma banda real. Isso é bastante raro. Sei que, antes, tentaram chamar-nos de Jim Morrison e the Doors, mas isso não funcionou. Jim não quis. Jim sempre quis que ficasse do jeito que estava, tudo igual. Foi idéia dele dividir tudo em quatro caminhos.

T.R.: Eu vi a banda em 1967 no Anaheim Convention Center. Foi um cenário insano.

R.K.: Quem mais estava lá?

T.R.: Vocês abriram com Jefferson Airplane fechando. O show foi segurado porque Jim estava atrasado, apareceu uma hora mais tarde, acho.

R.K.: Soa como Jim. Eu realmente não me lembro disso. Eu me lembro sim de fazer shows com Jefferson Airplane, no entanto.

T.R.: Eu tinha apenas 12. Sempre considerei esse show o meu Bar Mitzvah Rock and Roll. Fui um garoto e voltei um maluco!

R.K.: [Risadas]

T.R.: Nos últimos anos você tem tocado com Ray, por enquanto como os the Doors do século 21.

R.K.: Sim, isso foi com Ian Astbury, do Cult. Agora nós somos apenas Manzarek/Krieger. Nós acabamos de recrutar o cantor da banda Wild Child, Dave Brock.

T.R.: Ele é bom como o Ian era?

R.K.: Acho que é melhor. Mais perto do Jim. Ian meio que tinha sua própria coisa vindo do Cult. Mas esse cara realmente dá mais de Jim. Todos querem mais de Jim³.

T.R.: Algum plano para mais turnês?

R.K.: Sim, depois do primeiro do ano nós vamos para o México.

T.R.: Rapaz, os Doors sempre tiveram em demanda no México.

R.K.: Sim, nós fomos pra lá nos anos 60. Foi um grande acerto. Tornou-se político. Jerry Hopkins escreveu sobre a gente. O governo impediu-nos de tocar em uma tourada [4]. Acabamos tocando em um clube para um grupo de ricos. Mas, desde então, os Doors tem sido grandes no México e ao redor da Cidade do México.

T.R.: Bom, eu espero espero vê-lo ganhar o Grammy! Espero vê-lo em Anthology em January.

R.K.: Obrigado. Sim, passe para dar um alô.


Fonte: New Doors Still Open For Robby Krieger

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Notas:

1. Lifetime Achievement Award é uma espécie de prêmio pelo conjunto da obra de um artista ou grupo.
2. Pude escutar o álbum recentemente e gostei. Apenas algumas faixas ficaram cansativas, como Russian Caravan (02), que poderia ter ido ao final do álbum - e não no começo. House of Bees, no entanto, ficou muito boa pra fechar o álbum. Uma bela música, com pegada latino-brasileira e bem produzida.
3. Eles sempre querem mais. Será que o Jim Morrison queria isso também?
4. E com razão.

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