quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Carnívoros Agnósticos e o Aquecimento Global: Por Que Ambientalistas Vão Atrás do Carvão e Não das Vacas

Por James McWilliams
11/16/2011

Tradução: Leandro Loan

Não há uma única pessoa que fez mais para combater a mudança climática do que Bill McKibben. Através de livros densos, contribuições ubíquas em revistas e jornais, e, o mais notável, a fundação da 350.org (uma organização internacional não-lucrativa dedicada a lutar contra o aquecimento global), McKibben tem comprometido sua vida a salvar o planeta. Por toda a paixão abastecendo seus esforços, no entanto, há algo ainda estranhamente confuso em sua abordagem para reduzir emissões de gás de efeito estufa: nem ele, nem a 350.org promoverão ativamente uma dieta vegana.

Dada a natureza de nosso atual discurso sobre a mudança climática, essa omissão pode não parecer um problema. Veganos ainda são considerados uma espécie de “out there”, um grupo marginalizado de ativistas pelos direitos dos animais com pele pastosa e problemas protéicos. Entretanto, como um recente relatório do World Preservation Foundation confirmou, ignorar o veganismo na luta contra a desordem climática é como ignorar o fast food na luta contra a obesidade. Esqueça acabar com o carvão sujo ou com dutos de gás natural. Como o relatório do WPF indica, o veganismo oferece a única e mais efetiva forma de reduzir a mudança climática global.

A evidência é poderosa. Comer uma dieta vegana, de acordo com o estudo, é sete vezes mais eficaz em reduzir emissões do que comer uma dieta local a base de carnes. Uma dieta vegana global (de culturas convencionais) reduziria emissões de dieta em 87 por cento, comparado a míseros 8 por cento de “carne sustentável e laticínios”. Na luz do fato de que o impacto ambiental total da pecuária é maior que a queima de carvão, o gás natural e o petróleo, esse corte de 87 por cento (94 por cento se as plantas fossem cultivadas organicamente) chegaria bem perto de colocar 350.org fora de funcionamento, o que eu tenho certeza que faria McKibben um cara feliz.

Há muito mais a considerar. Muitos consumidores pensam que podem substituir galinha por bife e fazer uma diferença considerável na sua pegada dietética. Nem tanto. De acordo com um estudo de 2010 citado no relatório da WPF, tal substituição conseguiria uma “redução em rede do impacto ambiental” de 5 a 13 por cento. Quando se trata de diminuir os custos de uma mudança climática branda, o estudo mostra que uma dieta isenta de ruminantes reduziria os custos do combate à mudança climática em torno de 50 por cento; uma dieta vegana faria isso em torno de 80 por cento. Globalmente, o ponto se apresenta bastante forte: o veganismo global faria mais do que qualquer outra ação para reduzir as emissões dos GEE (gases do efeito estufa).

Então por que o 350.org me diz (em um email) que, enquanto está “bastante claro” que comer menos carne é uma boa idéia, “nós não tomamos de fato instâncias oficiais em questões como veganismo”? E por que raios não?! Por que uma organização ambiental comprometida em reduzir emissões de gases de efeito estufa não se opõe oficialmente contra a causa mais larga de emissões GEE – a produção de carne e produtos derivados? É desconcertante. E enquanto eu não tenho uma resposta definitiva, eu tenho alguns pensamentos sobre a questão.

Parte do problema é que os ambientalistas, incluindo McKibben, são geralmente agnósticos sobre a carne. Um artigo recente que McKibben escreveu para a Orion Magazine revela uma outra forma de princípio ambientalista se degenerando na questão da carne. O tom é descaracterizadamente “fofo”, até mesmo popularesco, e totalmente fora de sincronia com a gravidade das questões ambientais na estaca. Além disso, seu apelo de que “Eu não tenho uma vaca nessa luta” é uma avaliação um tanto quanto surpreendente para alguém que é tão dedicado a reduzir o aquecimento global que supostamente mantém o termostato nos 50s em todo o inverno e evita férias destinadas com medo de estourar seus créditos pessoais de carbono. Eu penso que o homem tem cada vaca do mundo nessa luta.

Então à pergunta real: como explicar esse agnosticismo? O fato de que McKibben recentemente viajou para a Casa Branca para se opor à construção de um duto de gás natural (e foi preso no processo), dá uma dica de resposta. Imagino que apanhar depois de protestar contra um massivo projeto de duto é muito melhor para o perfil da 350.org do que ficar em casa, mastigando couve, e aconselhando outros a explorar veganismo. A esse respeito, os impactos benéficos comparativos do veganismo global contra a eliminação de gás natural das areias betuminosas do Canadá não tem qualquer importância. O que importa é agarrar um título ou dois.

Daí o “problema” com veganismo e ambientalismo. Desde que Silent Spring (a exposição de Rachel Carson sobre o perigo dos inseticidas) o ambientalismo moderno tem dependido de momentos de destaque (high-profile) na mídia para fortalecer sua base militante. O veganismo, entretanto, dificilmente se presta a esse papel. Embora esteja se apoderando sutilmente à sua própria maneira, tornar-se vegano é um ato inapropriado para a publicidade sensacionalista. Oleodutos e outras brutas instrusões tecnológicas, por contraste, não são apenas grosseiramente visíveis, mas fornecem-nos (a mídia) claras vítimas, criminosos, e uma obscura narrativa de declínio. Penso que essa distinção explica muito a vacilação de McKibben – para não mencionar os movimentos ambientalistas em geral – sobre a carne.

Outra razão para o agnosticismo prevalecente na carne tem a ver com a estética comparativa dos oleodutos e pastagens. Quando ambientalistas consumidores de carne são atingidos pela problemática da pecuária, eles quase sempre respondem argumentando que devemos substituir a pecuária de confinamento pelo pastejo rotacionado. Apenas desloque os animais de fazenda aos pastos, eles dizem. Não surprendentemente, é exatamente isso o que McKibben argumenta em seu artigo Orion, dizendo que “a mudança da pecuária de confinamento para o pastejo rotacionado é uma das poucas mudanças que poderíamos fazer que está na mesma escala do problema do aquecimento global.”

Tudo isso soa muito bem. Mas se as estatísticas no relatório da WPF são confiáveis, os impactos ambientais dessa alternativa seriam mínimos. Então por que a batida frenética em apoio ao pastejo rotacionado? Eu diria que o apelo subjacente à solução do pasto é algo não apenas desmedido mas irracional: de que animais pastoreados simulariam, ainda que imperfeitamente, padrões simbióticos que existiam antes dos humanos chegarem para estragar tudo. Nesse sentido, o pastejo rotacionado apóia um dos mais sedutores (se não perigosos) mitos existentes no núcleo do ambientalismo contemporâneo: a noção de que a natureza é mais natural na ausência de seres humanos. Colocado de outra maneira, o pastejo rotacionado discursa com vigor à estética ambientalista enquanto confirma um preconceito contra os ambientes artificiais; um duto, nem tanto.

Uma última razão pela qual McKibben, 350.org, e o ambientalismo mainstream permanecem agnósticos em relação à produção de carne está na idéia da ação pessoal. Para a maioria das pessoas, carne é essencialmente algo que cozinhamos e comemos. Naturalmente, é muito mais que isso. Porém para a maioria dos consumidores, a carne é primeiramente e acima de tudo uma decisão pessoal sobre aquilo que colocamos em nosso corpo. Em contraste, o que vem à mente quando você imagina uma antiga central elétrica a base de carvão? Muitos conjurarão imagens enferrujadas de um ambiente inteiramente degradado. Com isso, as centrais de energia baseadas em carvão simbolizam não escolhas pessoais, ou uma fonte direta de prazer, mas um intrusão opressiva em nossas vidas, fazendo-nos sentir violados e impotentes. Os ambientalistas, eu portanto me arriscaria a dizer, vão atrás do carvão ao invés das vacas não porque o carvão seria necessariamente mais danoso ao ambiente (e se apresenta não ser), mas porque a vacas significam carne, e carne, não importa o quanto nefasta, significa liberdade de perseguir a felicidade.

Não pretendo minimizar o impacto desses fatores, é claro. A visibilidade dos dutos, o romântico apelo dos pastos, a crença bem assentada de que podemos comer o que bem entendermos não são obstáculos significantes a serem ultrapassados. Mas dado que o poder documentado do veganismo de confrontar diretamente o aquecimento global, e dado o fato de que as emissões tem apenas se intensificado ao longo de todos os esforços para combatê-las, eu sugeriria a McKibbens, 350.org e ao movimento ambientalista como um todo trocarem seu agnosticismo carnívoro por uma dose de fogo e enxofre de fundamentalismo vegano.

Fonte: Agnostic Carnivores and Global Warming: Why Enviros Go After Coal and Not Cows

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário.